sexta-feira, 13 de junho de 2014

Fantasma de dores de cotovelo passadas

Por Fernando Yanmar Narciso
Dia de ficar na fossa de novo... Desde menino pareço sofrer do complexo de Jon Arbuckle, dono do Garfield: Devo ter nascido com um tipo de repelente exalado pelas glândulas sudoríparas, que faz o sexo oposto ignorar minha presença por completo ou fugir de mim como se tivesse visto a Tati Quebra-Barraco se depilando. Mas por quê? Confesso, com alguma modéstia, que sou um cara relativamente jovem, bonito, culto e, dizem, de bom papo. E mesmo assim, não importa se eu estou na academia, no shopping ou na fila do supermercado, para elas sou um fantasma! Já fiquei ligadão em poucas fêmeas na minha vida, mas quando me apego a alguém, fico doente de paixão pra valer. No entanto, toda vez que tento deixar a amizade pra lá e propor a elas algo mais sério, caio de cabeça do cavalo: Ou são casadas ou gays. O que me consola é que, pelo menos uma vez nesses trinta anos de vida, esse rumo pareceu mudar. Uma curta e intensa glória no meio de uma coleção de derrotas... Foi uma professora do curso de design gráfico que me deu a dica. A menina tinha um grupo de discussão sobre cultura oriental na faculdade rival, e essa professora percebeu que eu e ela podíamos ter algo em comum. Sem ter o que perder, fui conhecer a moça... E o Cupido me acertou com uma marretada na testa! Inteligente, geniosa, com gostos parecidos com os meus. Aquela boca carnuda, o cabelo loiro, o jeitinho meio desengonçado de se mover, o corpo em modelo compacto... Nem prestei atenção na aula de mangá dela, de tão mesmerizado que estava. E ela, por sua vez, não conseguia entender por que aquele cara doidinho não tirava os olhos dela. Enquanto flutuava de volta para minha faculdade, com a certeza que ficaria sem sono pelo resto do mês, ela veio correndo atrás de mim para se apresentar melhor. Trocamos o número de celular, os contatos do bom e velho MSN e prometi voltar na próxima aula. E nas próximas também. Com alguns dias de conversa, já sabia de muita coisa a respeito dela: Se mudou pra cidade sozinha aos 15 anos, era faixa marrom em caratê, vivia de favor com uma amiga doceira, para quem fazia bicos pra se sustentar, queria se formar em História e fugir para o Japão- Tinha inclusive feito um cursinho de língua japonesa por correspondência- e, infelizmente pra mim, já namorava há dois anos, com um sujeitinho, segundo ela, meio dado a ocultista, que sacrificava pombas e mandava bichos peçonhentos pra quem tinha praticado bullying contra ele no colégio... Ou seja, o pouco juízo que tenho e minha intuição me indicavam que era melhor manter distância dela, pra me precaver contra qualquer represália do cultistinha de meia-tigela. Mas eu nem imaginava a força daquela mulher! A gente não se conhecia nem há um mês e ela já estava disposta a triturar os dois anos de namoro- Dizia estar tudo bem entre os dois, me procurar onde quer que eu esteja e se declarar a mim, como de fato aconteceu. E aquela noite foi de pura magia! Foram os quatro meses em que minha existência enfim ganhou um propósito. Sem a ajuda dela, eu nem teria conseguido tirar nota máxima no TCC, mas foi uma questão de tempo até o caldo engrossar pro nosso lado. Ela sempre ocupada com a faculdade e obcecada com seu diploma, não raro chegava meio inebriada aos nossos encontros. Eu, com minha inexperiência com o sexo oposto, continuava fazendo as coisas à minha maneira, sem mudar meus modos, minha forma de me apresentar. Ela se arrumava toda pra me visitar e eu sem nem um perfume no pescoço ou trocar de roupa pra recebê-la... Foi um namoro inesquecível nos primeiros dois meses, mas depois não deu mais pra ela continuar insistindo. Depois dela, nunca mais tive sorte com as moças. Claro que ser portador de déficit de atenção, síndrome de Asperger, dono de uma timidez que chega a constar na Wikipédia e não ser fã de jogar conversa fora são fatores que dificultam as coisas pra mim, mas bem que as mulheres podiam facilitar as coisas pra gente! Quer dizer, como estamos na era do “eu me amo”, da autossuficiência acima de tudo e de moças que se recusam a ser Olívia Palito nas mãos do Brutus, bem que vocês podiam deixar de lado o manjado joguinho do “Adivinha o que eu tô pensando”, que tanto irrita o sexo oposto... Por que sentem tanta dificuldade para ser diretas, objetivas? Homem não suporta o clichê “Eu disse isso? Então faz o contrário do que eu disse!” Nem todo homem tem inteligência o bastante pra sacar essas sutilezas. Sejamos sinceros, relacionamentos só servem pra trazer problemas e dor-de-cabeça. Uma dor sem a qual a vida não tem sentido... (Fernando Yanmar Narciso, escritor e designer gráfico. Contatos: HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso / HTTP://www.facebook.com/terradeexcluidos / cyberyanmar@gmail.com)

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