quarta-feira, 11 de junho de 2014

O perigo de certas fábulas na construção das representações sociais

Por Edinéia Pereira
O que é uma representação social? Qual é a importância de uma representação social? Como ela é construída? A quem interessa uma representação social e qual é a intenção que está por trás dela? Essas indagações nos levam a refletir sobre o comportamento de certos membros de sindicatos na atualidade. As produções de muitas representações sociais têm como escopo a famosa ilusio, isto é, o desejo de que uma opinião, ou de que uma ideia, ou de que uma pessoa seja canonizada. Para isso, o domínio dos mais variados tipos de discursos vira uma forte ferramenta. Antes de adentrarmos na discussão propriamente dita, vale ressaltar que esse artigo não acena contra a produção dos mais variados tipos de representações, mas para o mal uso dessa ferramenta, com intenções duvidosas. Dominando certas artimanhas discursivas, algumas pessoas, por meio dos próprios discursos ou via discursos de outrem, constroem suas próprias projeções. Para tanto, apresentam uma tese, não necessariamente verdadeira e, dão-lhe justificativas para reproduzi-la e sedimentá-la. Em artigo veiculado neste jornal, um certo cidadão afirmou que Delson Vieira foi eleito para presidente do Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás), nas eleições que ocorreram nos dias 21 e 22 de maio de 2014. O autor inicia seu texto fazendo extremados elogios ao extremado currículo do Senhor Delson Vieira. Segundo ele, Delson Vieira é um homem de vida ilibada, logo merece presidir o Sintego. Ademais, o autor deixa claro que o que lhe confere autoridade para tecer tais elogios está no fato de ele ter sido assessor de imprensa do Sintego. Em seguida, utilizando-se de um discurso pejorativo, nega de forma veemente a carreira daquelas que foram as oficialmente eleitas no referido pleito. O argumento utilizado pelo autor para rasgar a história de vida das eleitas é o fato de o governador do estado de Goiás ter dado um golpe na categoria e de elas não terem conseguido reverter essa terrível decisão. Oras, não sou contrária a que o senhor Delson Vieira, um sindicalista, tenha desejos de se projetar, de buscar o acúmulo de capital cultural. O que me parece estranho e o que me incomoda é a utilização de recursos discursivos retrógados para tal. Penso que é muito fácil construir uma projeção ancorado num momento em que a categoria está, com toda razão, descontente pela perda da titularidade que outrora foi conseguida pelas lutas do Sintego. Além do mais, usar a síndrome de gata borralheira, em pleno século XXI, para convencer a categoria de que ele é o vencedor do pleito é brincar com a capacidade reflexiva das pessoas, afinal de contas, já vimos esse filme anteriormente. Lembram da história da panela do Nerso da Capitinga, que vinha acompanhada de um pobre político numa humilde bicicletinha, lutando com um certo Golias chamado Iris Rezende? Pois é, Marconi Perillo utilizou-se desse mesmo recurso discursivo – agora utilizado pelo senhor Delson Vieira – para ganhar as eleições. E como nós, professores do estado de Goiás, estamos nos sentindo hoje? No mais, se o senhor Delson e toda sua chapa são realmente sinceros e querem um sindicado que verdadeiramente lute pelos direitos dos trabalhadores em educação, tenham compostura. Parem de divulgar que são os vencedores do pleito, pois esse não foi o veredito oficial. Todos sabemos que a Chapa 2 não concordou com a decisão da Comissão Eleitoral e que se declara a vencedora. É sabido, por ambas a Chapas, que a divulgação do resultado não é e nunca foi da competência de nenhuma delas, mas de exclusiva responsabilidade da Comissão Eleitoral. No entanto, a Chapa 2 se auto declarou a vencedora, mesmo antes do fim da apuração dos votos, mesmo antes das análises dos sete recursos que ela própria apresentou contra a Chapa 1 à Comissão Eleitoral, retardando a finalização do pleito. Diante de tudo isso, é preciso ressaltar que mais de 80% da base do Sintego votou na Chapa 1, da Central. Apesar de todos esses dados reais, no imaginário da Chapa 2, eles foram os vencedores. Indignados com a vitória da Chapa 1 – O Sintego Somos Nós, Nossa Força, Nossa Voz –, entraram com um processo na justiça contra a homologação do pleito. Já que tomaram essa decisão, aguardem os trâmites judiciais. Recolham suas antiquadas opiniões machistas e preconceituosas contra essas duas mulheres. É estupidez querer construir uma representação de imagem ilibada, tendo como escopo o total desrespeito pelo outro. Isso definitivamente não é uma nova referência de luta. A nova referência de luta consiste na urgência da reflexão da esquerda pela esquerda, mas esse processo não se dá rasgando a história das pessoas. Respeitem o Sintego, a categoria, a história dessas mulheres de luta que, nas mais difíceis situações, têm encontrado forças para seguir em frente. Assim, estarão construindo uma justa representação. (Edinéia Pereira, secretária de Imprensa e Divulgação do Sintego)

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