segunda-feira, 16 de junho de 2014

O Sistema Único de Saúde e a Copa do Mundo

Por Rafael Gouveia Nakamura
Às vésperas da segunda Copa Mundial de Futebol no Brasil, pouco mais de 124 anos de República se passaram em nosso país. Do descobrimento oficial (que de descobrimento verdadeiro não teve nada), lá se foram pouco menos de 515 anos. Talvez se considerarmos o tempo que passou desde o surgimento dos primeiros brasileiros legítimos na Terra do Pau-Brasil, quando construíram suas primeiras ocas, poderíamos ter um espaço temporal com melhor significância histórica para analisarmos a trajetória da evolução de seu povo e compreender muitos dos cenários da atualidade. Mas como temos extrema facilidade em olhar e sonhar o futuro, esquecemos do passado com a mesma agilidade, deixando assim de compreender quase tudo do presente. Somos um país jovem, com uma democracia ainda adolescente. E como é peculiar a esta faixa etária, conflitos, dúvidas e erros são frequentes, não podendo ser considerados acontecimentos estritamente negativos, exceto pelos míopes conjunturais ou oportunistas do caos. Nesta ótica, o Sistema Único de Saúde – SUS brasileiro encontra-se numa fase ainda mais imatura e com indefinições bastante exuberantes. Isto está longe de significar fracasso ou representar falha indelével, sobretudo quando entendemos que ele tem apenas 25 anos de existência. Aqueles que viveram o tempo que a saúde gratuita era somente para quem tinha carteira assinada, com certeza observam a evolução SUS com um olhar diferenciado. O passado nos mostra muito mais do que por onde andamos: deixa claro, na verdade, para onde estamos indo. A criação do SUS foi um grande avanço, significando uma mudança ousada em preceitos dados como inexoráveis e inquestionáveis. Sendo assim, sejam por experiência de vida ou através dos estudos históricos, iremos comprovar que esta transformação não foi isenta de questionamentos, críticas e de opiniões oposicionistas. De novo, tais situações não podem ser julgadas como positivas ou negativas sem uma análise esclarecida. A crítica construtiva, que se baseia na preocupação com retrocessos ou prejuízos à coletividade, sempre é bem-vinda. A oposição por defesa da zona de conforto de minorias, sustentada numa retórica de se apontar erros em detrimento da busca de soluções, já merece pouco ou nenhum valor. Este panorama se repetiu recentemente da saúde pública estadual em Goiás. Com a introdução do novo modelo de gestão das unidades hospitalares, através de Organização Social – OS, vimos novamente algo diferente ser proposto, frente às incontáveis dificuldades que a administração direta apresentava para gerir umas das mais complexas instituições de prestação de serviço. E como tudo que é diferente, não deixaria de suscitar temores e dúvidas. Naquele momento, semelhantemente a épocas já vividas na saúde brasileira, era premente uma reforma que transcendesse a mera troca de pessoas, as quais muitas delas detinham grande capacidade individual e nenhuma estrutura para traduzir suas habilidades no bem à coletividade. A ampla maioria da população que dependia do SUS não contava com acesso e assistência nos hospitais estaduais da grande Goiânia. Esta guinada na administração, com a colocação de todos os aparelhos hospitalares sob gestão de OS, mostrou-se exitosa nos dias atuais, demonstrando que muito mais usuários passaram ser atendidos. Analogamente, retomaram-se diretrizes básicas da conhecida Reforma Sanitária, a qual faz parte da construção do SUS. Isto, somado ao texto da Lei 8080/90, que já falava da administração indireta, comprovam que ao contrário do que se muito falou incautamente, a administração pelo chamado Terceiro Setor não só resgata as origens do Sistema Único de Saúde, mas o aperfeiçoa e qualifica. E este tipo de pensamento é materializado quando olhamos para o Hospital Alberto Rassi – HGG. A unidade, administrada pelo Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano – IDTECH, superou uma ideia quase que incutida em nossos subconscientes, a qual adjetiva instintivamente a saúde pública como algo inexistente, ou na melhor das hipóteses, como de péssima qualidade. Nós brasileiros, entorpecidos por uma anestesia social que alcança todas as classes e atividades, e vai muito além da questão de hospitais, nos aclimatamos a um cenário de pouca ou nenhuma qualificação na assistência à saúde, até mesmo quando lidamos com o setor privado. O HGG tem o orgulho de receber da Organização Nacional de Acreditação – ONA a certificação em excelência no atendimento aos usuários, titulação inédita para hospitais públicos no Centro-Oeste. É um fato histórico em diversos entendimentos, mas sem dúvida nenhuma, o mais relevante é a confirmação que o SUS é capaz de oferecer assistência com qualidade, segurança e humanismo a todos os seus usuários . É a comprovação que por meio de uma administração moderna e eficiente podemos ter hospitais que de fato concretizem a filosofia ainda somente idealizada em muitos setores e estruturas da Copa de Mundo de Futebol no Brasil. (Rafael Gouveia Nakamura, diretor técnico do Hospital Alberto Rassi - HGG)

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