quinta-feira, 12 de junho de 2014

Quem não tiver pecado atire a primeira pedra

Por Luiz Carlos Ferreira
Eu sempre tive uma relação meio angustiante com a igreja católica. Sendo nascido e criado em uma família que naqueles idos cultuava e praticava esta fé, natural fosse que eu desenvolvesse também a crença e a fé cristã católica. Lembro-me do ardor com que participei do catecismo e primeira comunhão, a seguir, sacristão (auxiliar das missas), culminando com uma experiência no seminário. Foi um curso no período das férias escolares, onde as crianças foram para o seminário e ali ficaram em estudos, orações e trabalho comunitário para apurar a vocação dos pretendentes ao sacerdócio. A congregação da paróquia da minha cidade, Pires do Rio, Paróquia do Sagrado Coração de Jesus (de muito boas lembranças), era dirigida pelos frades franciscanos, conseqüentemente fomos para um seminário com esta orientação. Seminário Seráfico Regina Minorum da Ordem Franciscana em Anápolis. Se me lembro com detalhes, o reitor era o Frei Silvestre, havia outros frades professores, um deles Frei Brandão que me lembro com mais detalhes por ser professor de matemática, matéria esta que sempre me destaquei e muito apreciava. Bem, este preâmbulo foi contado para situarmos no motivo em que ao final do curso fui dispensado. Enviaram uma carta aos meus pais dizendo que eu não poderia continuar pelo motivo de não ter “PIEDADE CRISTÔ. Pois bem, naquela idade entre 10 e 11 anos eu posso jurar que não saberia dizer o que é piedade, mas nos dias de hoje posso afirmar com a mais absoluta certeza que Piedade é o que falta em muitos dos pastores e dirigentes hierárquicos da nossa Igreja. Esta igreja que sempre oscilou entre os conservadores e os progressistas, aqueles fechando, estes abrindo à participação popular e fazendo a opção preferencial pelos pobres. Na verdade, fazendo a opção que Jesus Cristo fez, ele optou por andar no meio dos humildes, dos pobres e dos pecadores. “Haverá no céu, muito mais alegria por um pecador arrependido que se converte, que mil sem pecados que não precisam de conversão”. Este fato, embora tenha me deixado muito revoltado e triste, não fez com que eu perdesse a minha fé pessoal em Jesus Cristo. Sou um católico praticante, pois fui dirigente de pastorais, conselheiro administrativo e operário na paróquia São Pio X, onde passei a morar em Goiânia, paróquia da minha juventude com Pe. Venâncio, Pe. Willian e na fase adulta com o saudoso Pe. Bernardo, amigo pessoal da minha família, quando construímos a atual igreja, o centro comunitário e a creche da vila paraíso. Atualmente freqüento a igreja próxima da minha casa no Setor Gentil Meirelles, paróquia São Pedro Apóstolo e as novenas todas as terça feiras na matriz de campinas, porém, para que eu pudesse seguir vivendo a minha fé e participação nos rituais da santa missa, eucaristia e demais sacramentos da igreja, tive que me reinventar. Ouço e leio tudo o que diz respeito à minha igreja, porém descarto tudo aquilo de me diminui e me violenta. Mastigo, degusto e engulo tudo o que me faz crescer como pessoa, como avô, pai, esposo, irmão, filho e cristão. Muita coisa se vê e se ouve de pastores de nossa igreja que estão na contra mão dos ensinamentos de Cristo. Inventaram dogmas, criaram dificuldades não sei levado a porque motivação ou talvez até saiba. Celibato, ordenação de mulheres, etc.. Vejo com tristeza a igreja na contra mão, então sempre que há eleição de um novo papa fica a esperança de que venha alguém com mais inspiração do Espírito Santo e aproxime esta igreja dos mais necessitados, dos excluídos e dos discriminados. Lembro-me da eleição de João XXIII e os ventos novos que sopraram e arejou uma igreja que estava mofada e escura, janelas foram abertas, houve uma aproximação com o povo de Deus. Veio Paulo VI de viés mais conservador, João Paulo I não teve tempo, João Paulo II que despertou uma grande esperança, o papa peregrino, que saiu do seu gabinete e veio conhecer o seu povo (bom exemplo a ser seguido por alguns políticos da nossa capital), mas que, ou não quis ou não pode, fazer as reformas esperadas. Veio Bento XVI, fiquei muito decepcionado com a eleição deste, por conta do seu perfil conservador, mas que acabou se revelando um bom pastor. Então veio Francisco I, e foi neste dia que minha atenção se despertou. Porque será que nenhum dos sucessores de São Pedro adotou o nome de Francisco, o santo que fez a opção pela pobreza, pela natureza e pela humildade. Já começastes bem ex-cardeal Jorge Mario Bergoglio, de cara, adotastes o nome Francisco e me fizestes gostar de um argentino. Vieram os primeiros atos, a dispensa da limusine, do palácio, a chamada para o compromisso com a austeridade, com a humildade, a troca de dirigentes do Banco Vaticano, as primeiras declarações e por fim “Os homossexuais não podem ser descriminados, eles devem ser acolhidos”, ele não disse: “podem”, ele disse: “devem”, ou seja, “eles tem que ser acolhidos”. Agora o nosso arcebispo Dom Washington Cruz, afasta Pe. César Garcia por suposta benção a um casal homossexual que já vivem uma relação homo afetiva há 11 anos. Acredito que deve haver algum mal entendido nisto, eu próprio não acredito que o Pe. César tenha celebrado esta união, até porque esta celebração não existe na igreja, porém acredito muito que ele tenha abençoado aquelas pessoas e aquela casa, ele fez o mesmo que Jesus Cristo teria feito nesta situação. “Mulher onde estão os que te acusam? Não sei Senhor, não os vejo. Então eu também não te acusarei”. Deixando de falar no homem e falando da instituição, sabemos que a igreja tem muitos pecados como todos os seus fiéis humanos. Ela responde por crimes de pedofilia, desvios e lavagens de dinheiro do Banco Vaticano entre outros crimes, além desta intolerância patrocinada pelos seus dirigentes conservadores. A própria igreja mantém em seus quadros padres e dirigentes que são homossexuais, na paróquia em que eu frequentava antes de me mudar para o setor Gentil Meirelles, passaram alguns párocos sabidamente homossexuais, e posso afirmar que, eles foram muito bons pastores, foram os que mais aproximaram a igreja do povo, portanto fica a dúvida, se um homossexual pode ser ordenado padre, porque não pode receber a benção de um padre? O arcebispo está contradizendo a palavra de seu superior Papa Francisco I, de minha parte, vou orar para que o Espírito Santo penetre nas mentes fechadas dos que obstruem o crescimento da fé deste povo carente de um abraço, de um afago, de um ombro ou um colo, carentes de amor. “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”. (Luiz Carlos Ferreira, diretor técnico da Start Engenharia de Automação Ltda)

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