quinta-feira, 29 de maio de 2014

A importância da pressão popular

Por Diego Q. Souza
Por intermédio da pressão popular já conseguimos colocar abaixo ditaduras, regimes totalitários, governantes corruptos, esquemas de venda de voto, regimes escravagistas, feudalistas, colonialistas. Já conseguimos estabelecer novas ordens constitucionais por meio de assembleias constituintes, também adquirimos o direito a plebiscitos para maior voto e voz do povo no governo do País, derrubamos um presidente por meio de impeachment, estabelecemos a “Diretas já” como instrumento de reivindicação por eleições presidenciais diretas, e tantas outras conquistas positivas propugnadas pelo povo brasileiro. A pressão popular é um clamor do oprimido por libertação, dignidade, respeito e que não raro são negados de tempos em tempos ao longo da história por interesses privados. Entende-se então que antes de tudo, os movimentos populares são de viés democrático, justamente por visarem o bem coletivo e social e carregarem em seu bojo as ferramentas da transformação. Assim situam-se na esfera pública, mesmo que para isso atinja o nível privado das instituições privadas como bancos para redução de juros e maior participação no incentivo ao desenvolvimento da qualidade de vida, multinacionais para assuntos do meio ambiente e contenção de desastres de toda natureza, da propriedade privada para pagamentos de impostos e cumprimento de sua função social, bem como abertura para reforma agrária e ocupação por pessoas produtivas que queiram se emancipar por meio do trabalho não alienado. Agora no Brasil, como protagonista de grandes levantes populares, enfrentamos um novo desafio que se impõe, mas que são contrários aos interesses dos arquitetos de políticas apartadas da vontade da população. A América Latina, e o Brasil mais especificamente, começam a desenvolver-se politicamente, munidos de ideias progressistas que vão ao encontro de medidas para mitigar o baixo nível educacional, a péssima qualidade do transporte, o descaso com a saúde, a desvalorização do trabalho e aumentar a transparência na política, mas que não se encerram aí. Queremos mais igualdade, liberdade e justiça para além da formalidade técnica. O que alguns governantes, empresários e a mídia dizem sobre tais movimentos, é que essas tendências conflitam com a exigência “de um clima político e econômico propício para o investimento privado”. Falar em democracia, direitos humanos tornou-se uma heresia, o importante é falar em lucro, em sistema capitalista, em manutenção do poder. A mídia favorece neste sentido ao incutir no pensamento de cada cidadão o que ela entende como justo, bom, correto dentro da manutenção da ordem, desde que esta ordem a ser seguida não comprometa os interesses das grandes corporações por trás da própria mídia. Os movimentos populares estão a mostrar a insatisfação com estes poderes hierarquicamente estabelecidos, que não respondem mais às enormes demandas vigentes neste país marcado pela desigualdade social e pela negação política aos interesses da população e a estas leis que se mostram incapazes de garantir os direitos fundamentais da pessoa humana. Estamos de fato ameaçando a estabilidade econômica e política de um Brasil em que 10% da população detêm 75% de nossa riqueza, e que 60 milhões de brasileiros nunca leram um livro sequer na vida. É contra essa “estabilidade” que estamos nos levantando. O povo brasileiro cansou de ser lançado ao ostracismo político da participação direta e democrática naquilo que interessa a coletividade. Estamos a dar um grito de basta contra a ordem estabelecida. Por isso essas manifestações populares não são só ou apenas contra o aumento da tarifa de transportes, mas contra essa herança escravocrata da exclusão social e do racismo ainda presentes sejam nas escolas ou nas relações sociais do trabalho, contra as favelas que são alijadas da sociedade e seus moradores tratados como “classe de classe alguma”, uma subclasse que sofre toda sorte de exclusão, violência e descaso. Contra também a desigualdade social sempre crescente da qual a acumulação de riquezas sem distribuição justa de renda é um grande mal a ser combatido. Tais ameaças contra a “estabilidade do sistema capitalista mundial” justificam o uso do terror e da subversão para a restauração da “estabilidade”. É neste momento de irrupção popular que se criam leis antidemocráticas, que a polícia se torna autoritária e fascista, que políticos e imprensa absorvem essas demandas dentro de seus interesses particularizados, manipulando a informação que será direcionada às massas no intuito de abafar seus gritos. O que se sugere é a criação de reformas pontuais e transitórias ora usando do poder ideológico de adestramento midiático outrora induzindo o povo para a marcha da mudança sem mudança, tomando o já gasto jargão emprestado dos conservadores que reza: “queremos que as coisas mudem desde que tudo continue da mesma forma”. Os regimes nacionalistas que ameaçam aquela “estabilidade” são repudiados e atacados ferozmente por entes internos e externos da nação, tratados como um vírus que precisa ser extirpado para a continuidade do conservadorismo e para a manutenção do status quo que insistem reiteradamente em repetir o mantra de que já vivemos “o melhor dos mundos”, o mundo deles é claro. Sendo assim, vivemos em tempos de mudança, onde a pressão popular indicará o caminho a ser seguido, a criação de um novo mundo mais participativo e justo. É contra as forças que irrompem avessas à esses clamores por igualdade e liberdade que o povo grita nas ruas. Quando ele, o povo, descobre que tem o poder de mudança conjuntural de todos os fatores sociais, políticos e econômicos que o regem, então ele se encoraja, toma a história em suas mãos e a partir daí força alguma é capaz de detê-lo. (Diego Q. Souza, sociólogo, filósofo)

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