quarta-feira, 28 de maio de 2014

Retrato da atualidade brasileira

Por Alba Dayrell
Desde os primórdios da civilização, o homem tem procurado se aglutinar para viver em segurança, compartilhar a alimentação e resolver com sabedoria os problemas da comunidade. O ser humano não foi feito para viver isolado. A integração com seus semelhantes é fator primordial a sua sobrevivência. Atualmente, vivemos momentos de turbulência, o que nos causa a impressão de que estamos navegando à deriva sem saber se alcançaremos um porto seguro para atracar. A população clama por educação, saúde, segurança, transporte e habitação, fatores essenciais à condição humana. Se começarmos pelo primeiro item, a educação, instituindo escolas em período integral para todos, oferecendo aos estudantes alimentação, orientação de vida, aulas de civilidade e cidadania, grande parte dos problemas seriam sanados. Com os alunos bem-nutridos amenizaria em parte as mazelas da saúde. A convivência com os professores num lugar apropriado de aprendizado despertaria nas crianças e adolescentes interesses diversos afastando-os das drogas, das bebidas, das más companhias, da ociosidade, do desalento... A preocupação dos pais é imensurável. Precisam trabalhar, contudo, ao saírem de casa, não sabem o que poderá acontecer aos filhos, longe dos seus cuidados. Após deixarem as aulas, ficam perambulando pelas ruas, sujeitos a entrarem em contato com todo tipo de gente; inseguros e famintos, sentem-se abandonados; então, tornam-se seres desiludidos com a falta de perspectiva de crescimento na sociedade. Nos dias atuais, o caos domina o Brasil. Não existe respeito às autoridades nem às instituições. Pais matam filhos, em contrapartida, filhos assassinam pais, num estado de frieza absoluta. Estupros, abusos sexuais, partindo de estranhos ou familiares, contra crianças e adolescentes, tornam-se cada vez mais frequentes. As drogas têm invadido todas as camadas sociais ocasionando alienações, crimes e mortes prematuras. Para adquiri-las, os usuários, na sua vulnerabilidade, são alvos de todo tipo de exploração, incluindo a participação em assaltos, assassinatos, agressões, desacatos, badernas, o que os conduz a uma miséria moral indescritível. Com a ausência de segurança, obrigação e dever do Estado, a população revoltada se une para fazer justiça com as próprias mãos, participando de linchamentos, massacres e outras atrocidades, expressando com crueldade suas frustrações, revoltas e mágoas. Toda essa violência, devido à omissão das autoridades competentes, leva o homem a praticar ações macabras muitas vezes endereçadas a pessoas inocentes. Doentes morrem nas filas dos hospitais públicos, quando não permanecem amontoados nos corredores dos prontos-socorros à espera de atendimento. Nossas universidades formam bons médicos que, muitas vezes, são impedidos de exercerem suas profissões com dignidade por falta de aparelhos, materiais hospitalares e medicamentos. O transporte público atingiu o patamar da degradação. Enquanto nos países de primeiro mundo, as pessoas deixam suas conduções em casa para utilizarem ônibus, trem e metrô, devido à eficiência da rede implantada visando ao bem comum, no Brasil, estimula-se a venda de automóveis que entopem e congestionam as ruas, nem sempre preparadas para um fluxo tão grande de máquinas. As autoridades se esquecem da exigência da construção de garagens em número suficiente para abrigar tantos veículos. Deveriam seguir o exemplo do Japão, onde a aquisição de carro é proibida a quem não tem lugar para estacioná-lo. Depois de um dia exaustivo de labuta, o trabalhador leva no mínimo duas horas para chegar a casa. Faz o percurso enlatado, apertado, de pé, sujeito a todo tipo de dissabores. Não é justo! Pequenas mudanças não servem nem como paliativos. Necessário se faz um planejamento inteligente, direcionado ao bem-estar do cidadão e não aos interesses econômicos das empresas. A reformulação do transporte coletivo deve ser feita em sua totalidade para que todos possam dele desfrutar. Se assim não for, os carros serão impedidos de circular pelas ruas da cidade por falta de espaço físico. É uma questão de lógica. Por que o Brasil, ranqueado entre as dez maiores economias do mundo, com taxas tributárias elevadíssimas, não consegue gerenciar as necessidades básicas de sobrevivência dos seus cidadãos? Certamente, essa empresa é muito rica, motivo pelo qual ainda não faliu. O povo clama por seus direitos. Todos querem ver seu dinheiro bem-administrado, a fim de que possam viver com dignidade e, ao mesmo tempo, ter condições de educar seus filhos para serem pessoas honradas, capazes de contribuir para o engrandecimento da Nação! (Alba Dayrell, membro da Academia Feminina de Letras e Artes(AFLAG), da União Brasileira dos Escritores(UBE)e professora aposentada da UFG)

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