terça-feira, 27 de maio de 2014

Psicóloga homofóbica ou conselho cristofóbico?

Por Bruno Rodrigues Ferreira
A "psicóloga" Marisa Lobo já se tornou famosa no Brasil, por uma postura homofóbica e arbitrária, tem usado a Psicologia como desculpa para lançar suas ideias por aí. Até agora, tudo bem, já que diversos outros fazem a mesma coisa, porém de maneira comedida. Em Goiás mesmo, há diversos casos de "psicólogos" que utilizam os consultórios para derramar seus preconceitos e valores religiosos. A “perseguida” psicóloga acredita que existe uma organização mundial que tem como objetivo a "reorganização de sexualidade, e seus papéis no mundo, para acabar com a Família", no melhor estilo Teoria da Conspiração. Ela culpa a mídia, a ONU, e até os Teletubies (Tá bom, aqueles bichos coloridos estão realmente envolvidos) de promover o Homossexualismo (O termo correto é Homossexualidade, porém ela prefere usar o outro termo, como boa profissional de saúde que é.) pelo mundo além de promoverem uma perseguição contra os cristãos e seus “valores”. E, sim, ela acredita que é possível transformar heterossexuais em gays, apenas por pressão da mídia, e com a força da “ditadura gay”. Você, querido leitor, que é heterossexual, já sentiu vontade de ser gay, apenas pela pressão por direitos dos homossexuais, ou por causa do beijo gay que passou na última novela? Ela se esquece, primeiro, que só 32% da população mundial é cristã, portanto, os outros quase 70% da população não são obrigados à seguir os preceitos cristãos. Outra coisa que ela se esquece é que foi justamente o cristianismo, sobretudo o protestantismo, o grande responsável pela intolerância e perseguição contra gays ao longo da história. Ta aí o Allan Turing que ajudou bastante no fim da Segunda Guerra mundial, mas foi condenado por ser gay. A Rainha Elizabeth II perdoou o mesmo, em 2013, pelo crime de ser gay. Ela é a Líder Religiosa do Reino Unido. Ele havia se matado com 42 anos, por sofrer tanta pressão, como diversos gays cristãos fazem todos os anos. Mas, vamos ao caso do processo de cassação do registro de profissional desta senhora. Em primeiro lugar, o processo corria em sigilo. O que significa que alguém vazou a informação. Coincidência, ou não, quem vazou notícia ao público foi o Senador, evangélico, Magno Malta, que faz parte de um partido que é “parceiro” do PSC no Paraná, partido pelo qual Marisa Lobo pretende lançar-se como candidata à deputada federal este ano, justamente com o discurso de luta pelas famílias. O processo de cassação se deu por diversos motivos, como seu discurso ridículo de que é possível reverter a homossexualidade, e que ela teria muitos amigos “ex-gays” que hoje estão casados. Como diria Xuxa, “Aham, Cláudia, senta lá!”. Se é possível transformar gays em heterossexuais o inverso também é possível, né? Ela também é a favor daquele projeto de Lei do João Campos, que é de Goiás, inclusive (vergonha extrema), que propunha a “cura gay”, ao intervir na autoridade do Conselho Federal de Psicologia, que tem como função regular a profissão, tentando revogar uma resolução de 1999, que entre outras coisas, dizia que o psicólogo deve trabalhar para minimizar estigmas e preconceitos contra homossexuais, e que não pode tratar homossexualidade como doença, nem colaborar com eventos que proponham cura gay além de proibir o profissional de se pronunciar publicamente reforçando preconceitos ligando homossexualidade com doenças. Repare que ela violou praticamente todos os artigos desta resolução. Há o agravante de ela se intitular psicóloga cristã, tendo seu trabalho baseado na “Palavra de Deus”, o que por si só já era violação do código de ética do profissional Psicólogo, que no artigo segundo proíbe o psicólogo de “Induzir a convicções políticas, filosóficas, orais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais”. Veja que ela conseguiu violar o artigo segundo por dois motivos diferentes. Ela diz que o Conselho de Psicologia é um agente da “ditadura” gay que tenta derrubar o Cristianismo e seus valores. Porém o conselho só seguem resoluções adotadas por outras instituições anos antes. Desde 1975 a associação Americana de Psicologia não considera a homossexualidade como doença, assim como a Associação Brasileira de psiquiatria que se posicionou de forma semelhante em 1984, seguida pelo CFP em 1985 que passou a não mais considerar homossexualidade como um desvio sexual. Desde 1990 o termo homossexualidade passou a não figurar na lista de doenças do CID, e finalmente em 1999 o CFP emitiu a resolução que definia regras aos profissionais sobre este assunto. Desde 1991 a Anistia Internacional considera discriminação contra homossexuais como uma violação aos direitos humanos. Detalhes, todas essas ações foram motivadas justamente pelo fato de não se conseguir reverter a sexualidade de ninguém. Portanto, como essa psicóloga conseguiria reverter a sexualidade de alguém se não existe nenhum material científico que contenha instruções ou métodos para isso. Se ela realmente descobriu como fazer isso, então tal descoberta deveria ser divulgada e ganhar o mundo, afinal ela é simplesmente melhor que qualquer outro profissional que já atuou até hoje. Alguns agora dirão que pela fé é possível, só que o que é realmente possível pela fé é uma espécie de tortura misturada com lavagem cerebral, que vai deixar o sujeito numa vida miserável e infeliz, forçado a ser alguém que ele nunca foi de verdade, sempre reforçada pelo medo, culpa e punições. Quanto às acusações dela contra o Conselho de Psicologia do Paraná vamos aos fatos: O código de ética fala justamente da proibição de induzir convicções religiosas quando no exercício da profissão. Eu sou cristão e deixo isso claro em meu perfil do Facebook, todos os meus amigos e familiares sabem disso. Porém quando estou no consultório eu sou o Psicólogo, e aí minha religião não entra, porque posso ter pacientes ateus, judeus, muçulmanos, umbandistas... E isso não fará a menor diferença, pois passei cinco anos na faculdade (fora o tempo com cursos e pós-graduação) para ser psicólogo e não um diretor espiritual. Isso cabe aos líderes religiosos. Por isso o conselho nunca me cassou, porque sou cristão e psicólogo, e não um psicólogo cristão. Então essa acusação de que o conselho é “cristofóbico” como ela diz, não se sustenta. Praticamente todos os meus amigos psicólogos tem religião, nenhum foi cassado. Pois não tentam usar sua religião no consultório, como muleta. (Bruno Rodrigues Ferreira, jornalista e psicólogo, especialista em educação e tecnologia, coordenador de gestão de qualidade)

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