sexta-feira, 30 de maio de 2014

O porquê da fila no SUS

Por Adriano Maltez
Pode-se dizer que existe uma fila crônica para os usuários do SUS. Pessoas frequentemente esperam por consultas médicas, exames, cirurgias, tratamentos complementares (fisioterapia, fonoaudiologia, etc.) por semanas, meses ou anos (em alguns casos). Um dia desses parei para refletir sobre o porquê de tanta espera. Há número insuficiente de profissionais da saúde no país? Não. Os profissionais da saúde são maus? São pessoas que têm prazer em ver o sofrimento alheio? São inescrupulosos a ponto de fazer restrições de atendimento para forçar que o usuário busque o atendimento privado? Não. Profissionais de saúde têm por princípio o cuidado com o ser humano e a busca pelo alívio de seu sofrimento. Conheço inúmeros médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos, biomédicos e outros e posso afirmar-lhes que a grande maioria é de pessoas de bons princípios, treinados para ajudar e socorrer aqueles que necessitam de seus cuidados. Então, por que a fila, que já tornou-se crônica, quase institucionalizada? Os usuários do SUS não são diferentes dos usuários dos planos de saúde ou daqueles que podem pagar pelos procedimentos: seus casos não são mais complicados, não são mais feios ou mais bonitos, não são mais mal-educados ou mais deselegantes, não são mais mal-cheirosos ou bem-cheirosos que os usuários do sistema de saúde complementar. Então qual é a explicação? A tabela de procedimentos do SUS prevê em abril de 2014 o valor de R$10,00 (dez reais) por uma consulta com médico especialista (neurologista, cardiologista, cirurgião vascular, por exemplo). O tempo de estudo para se tornar um especialista atualmente é de cerca de 10 anos: 6 anos de faculdade, 2 anos de residência em clínica médica e mais 2 anos na especialidade. Sei de pessoas que estão há 2 anos aguardando por cirurgia em hospitais públicos de nossa capital. A seguir serão apresentados os valores pagos pelos serviços profissionais de algumas cirurgias conforme previsto na tabelo do SUS (abril de 2014). Importa explicar que os valores apresentados destinam-se ao pagamento do trabalho do cirurgião principal, cirurgião auxiliar (quando necessário) e anestesista, isto é, o montante será dividido entre os três médicos. Cabe lembrar também que o valor a ser pago é o estabelecido para pagamento pelo ato cirúrgico e pelos cuidados pós-operatórios, independente de o médico ter que cuidar do paciente por um dia ou por uma semana internado. Cirurgia de hérnia inguinal: R$146,96 (cento e quarenta e seis reais e noventa centavos). Colecistectomia vídeo-laparoscópica (retirada da vesícula biliar por vídeo-laparoscopia): R$171,78 (cento e setenta e um reais, e setenta e oito centavos). Hemorroidectomia (cirurgia de hemorróidas): R$124,84 (cento e vinte e quatro reais e oitenta e quatro centavos. Apendicectomia (cirurgia de retirada do apêndice, em pacientes com apendicite) R$161. Queria que o conteúdo deste artigo chegasse ao conhecimento dos quase 150 milhões de brasileiros, que são usuários do SUS e ao restante da sociedade, que está diretamente ligada a esses usuários. Faço aqui, caros leitores, reflexões acerca de uma das maiores riquezas que um ser humano pode ter e que deve preservar: a saúde. A Medicina ensinou-me que para trabalhar, estudar, desfrutar dos momentos de lazer é preciso ter saúde. Sabiamente afirmou René Descartes (filósofo, físico e matemático francês, viveu entre 1596-1650): “A saúde é sem dúvida o primeiro bem e o fundamento de todos os outros bens desta vida”. O SUS – Sistema Único de Saúde – trazido pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado dois anos depois, pelas leis 8.080/1990 e 8.142/1990, foi criado para garantir o atendimento gratuito e universal a todos os brasileiros. Os dois melhores investimentos para indivíduos e países são saúde e educação. Temos exemplos de vários países de pequena extensão territorial que graças à saúde e educação de seus cidadãos são altamente produtivos e muito desenvolvidos, como Alemanha, Japão, Inglaterra, França, Israel, Itália, dentre outros. Uma solução possível para resolver o problema de atendimento e filas do SUS seria melhorar o valor dos serviços realizados (TABELA), equiparando-os com os praticados pelos planos de saúde, que já encontram-se bastante defasados, mas ainda significativamente melhores que os da tabela do SUS. Para isso é preciso vontade política e exigência por parte dos usuários. A tabela completa do SUS encontra-se disponível no sítio eletrônico: “http://sigtap.datasus.gov.br/tabela-unificada”, basta procurar em procedimentos. (Adriano Maltez, médico Cirurgião Geral e Cancerologista - Contatos: admaltez@hotmail.com)

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