terça-feira, 27 de maio de 2014

Cartéis aviltam preço da borracha natural brasileira

Por Josias Luiz Guimarães
Há quatro anos, o produtor vendia um quilo de borracha natural por quatro reais e dez centavos, agora, passado todo esse tempo, com uma inflação acumulada de 30%, o mesmo produto: látex coagulado, esta sendo vendido na propriedade, no caso Tocantins, por apenas dois reais e vinte centavos. Enquanto o leite de vaca o país produz mais do que consome, há excedentes para exportar, de forma permanente, isto permite que a intermediação gananciosa imponha preço aviltado, entrementes, no caso da borracha natural, acontece o oposto do leite bovino, isto é, produzimos, apenas, vinte cinco por cento da matéria prima necessária, ao funcionamento do parque industrial instalado, o restante, três quartos, vem de longe, é importado da Azia. Produzir mais aqui, portanto, é importante, significa economizar divisas, numa época de desequilíbrio da balança comercial, importação, no geral, maior do que exportação. Pense você consumindo, em certo tempo, mais do que produziu, ganhou, como ficaria sua situação financeira? Por isto, uma política de incentivo ao aumento da produção de borracha, neste caso, e outros produtos, como os que vêm acelerando o Agronegócio, seria bem vinda, porquanto, ajudaria, de fato, a promover o equilíbrio da nossa balança e, mesmo, exportar, mais do que vem consumindo, acelerando nosso crescimento econômico. Essa política terá que começar, com preços justos amparados pela constituição, ou seja, o artigo 187, sabido é, que o próprio governo vem, há muito, fazendo ouvido mouco aos clamores dos produtores de ambos produtos. Iludido, consciente ou inconscientemente, com o conto de sereia, da lei de oferta e procura de Ádan Smith, agora, com novo rotulo, o de Neoliberalismo, integração de mercados, penaliza os produtores, geradores da riqueza: muitos, dispersos, desunidos, premiando, ao assim proceder, a intermediação gananciosa: poucos, unidos, mais instruídos, portanto com maior poder de barganha, preços impositivos. Para evitar, essa discriminação escabrosa, desigual, a constituição de 1988, fixou no seu artigo 187, já citado,no tocante a política agrícola, alínea II, normas de proteção aos geradores da produção, riqueza, assegurando, a eles, “preços justos e compatíveis com os custos de produção”; de sorte que, o estado, seus gestores, ao não cumpri-la, ou fazer cumprir, cavalga a lei, segundo Rousseau, filósofo mor do Iluminismo, a mais sublime das invenções humanas. Pois então leitor, o estado ao não cumprir, essa mais sublime invenção humana, acabou, sem querer querendo, cavalgando a lei, ao cavalgá-la, reverteu seu papel, em vez de servo da sociedade, alçou, passou a ser, senhor dela, tornando-a massa de manobra, por meio da mais pura demagogia, no lugar de dançar segundo a vontade, música da sociedade, passou a fazê-la dançar conforme sua barulhenta orquestra musical, um tanto sem ritmo, desengonçada, arrítmica. Tudo acontece porque, a sociedade nunca foi preparada, pela escola, continua sendo enganada, para exercitar o seu papel, de senhora do estado, pois ele foi criado para servi-la. Órfã de escola, desde os primórdios, nunca exercitou sua mais sublime missão de controlar os que são contratados pelo voto, para bem servi-la sendo oportuno rememorar, neste caso, o milenar questionamento, ainda, da República Romana – Quis Custodiest Custodes? Quem controla os que controlam? No caso, seria a sociedade, todavia, desinformada, vítima da escola, nunca teve condições de cumprir, como dito, sua mais bela, sublime missão, ou seja, a que foi praticada pela Eclésia: assembléia dos cidadãos, na república vivida, pela primeira vez, na Cidade Estado de Atenas, controlar os governantes. Você reclama, tantos outros reclamam, estão insatisfeitos, protestando, isto aí, que veio depois da ditadura é, também, uma zorra, a toda hora ribomba um escândalo levado a termo, pelos próprios alardeados proclamadores do “Muda Brasil”, restauradores da tão decantada nova ordem, veja, portanto, quem são os protagonistas de tal zorra: mensalão, sete anões do orçamento, Monte Carlo, com a Delta Construtora ou operação “Cachoeira”, e, miríade de outras, na verdade, transformaram a república em fundo de quintal deles, fazerem dela suas vontades egoísticas, mordomias as expensas da sociedade sofrida, a que sustenta a Nação, paga a conta deles, o propósito é eternizar-se no poder pelo poder, e, nunca, pelo povo e para o povo. Entrementes, de volta a lei, não há a negar que os cartéis são importantes, como investidores, ajudam a prover o nosso crescimento econômico, todavia, eles precisam ser fiscalizados pelo estado, para não abusarem, no caso, dos pequenos e médios empresários, geradores da riqueza, como vem acontecendo, com a borracha natural e leite bovino. Com efeito, eles agem, fazem o que determina seus instintos maquiavélicos, livremente, pois, nas campanhas eleitorais nababescas, são os principais financiadores, neste sentido, merece aplauso o questionamento, propositura da OAB, junto ao STF, sobre a legalidade de tais donativos, vez que, acabam transformando, os candidatos eleitos, em marionetes delas, empresas jurídicas, cuja relação, nada tem a ver, com a condição civil e cívica do eleitor, sublimada pelo voto, sua mais singular arma, quando consciente, porém, na atual conjuntura, mascarado, eivado de vícios, por falta de cultura eleitoral, e, engodo dos candidatos raposões. A sociedade eleitora consciente, aguarda com ansiedade, uma decisão altiva da Suprema Corte: STF, considerando ilícita, proibindo, peremptoriamente, a orgia de contribuições dessa natureza. Enquanto o estado de direito, via de seus gestores contratados pelo voto, sustenta dezenas de milhões de patrícios de baixa renda, por meio da bolsa-família e outras ajudas, mas esquece de ensiná-los a pescar e financiar a vara, consoante pregava Quantzu, filósofo milenar da China, transformando-os em coitados, ao não capacitá-los engajando-os no mercado de trabalho e, deste modo, construtores de seu próprio destino, a prática em voga incentiva o ócio, a falta de conhecimento, em especial político, rebaixa-os a vil condição de eleitores de cabresto, semelhante aquela da velha república dos coronéis, agora, com a regalia do estatuto da reeleição, oligarcas encastelados. De forma diferente leitor, uma política como foi concebida e praticada na Grécia antiga, de apoio, incentivo: crédito orientado, extensão rural, como era antes, associado à compra e venda dos principais produtos, em conjunto, técnicos bem capacitados, emanciparia, certeiramente, dezenas de milhões de patrícios: seringueiros e produtores de leite, das garras dos cartéis camuflados, intermediação gananciosa, integrando-os, na corrente de progresso, com o próprio trabalho, sem paternalismo – ajudando, eles produtores, a ajudarem a si mesmos, através do fazer fazendo – calcado no labor, trabalho, um eleito de Deus, aquele que alimenta o estômago, barriga, alimenta, também, sobejamente o espírito, preenche os espaços vazios da mente: mente vazia, oficina do diabo, transformando-se em bálsamo para a vida em sociedade, sociedade participativa, desse modo, altiva, construtora de seu próprio destino, diferente da atual, em grande parte, cativa do estado, estado gestado, em sua maioria, por lobos em pele de cordeiro: homo, homini lupus. (Josias Luiz Guimarães, veterinário pela UFMG, pós-graduado em filosofia política pela PUC-Go, produtor rural)

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