terça-feira, 27 de maio de 2014

História da geografia em Goiás LVIII

Por Bento Fleury Os velhos caminhos que cruzaram Goiás em tempos diferentes eram estradas carreiras e tropeiras, que seguiam, ainda, as marchas dos bandeirantes que, outrora, haviam atravessado o grande sertão do oeste na busca de infindas riquezas e de prestígio junto à Coroa de Portugal. Em nossa região, a de Goiânia, marcada pela história da agricultura e da pecuária, há registros antigos de caminhos e rotas que marcaram a busca de gado e de lugares ideais para a agricultura, evidenciando a riqueza do chão, nas imediações de Bonfim de Goiás, então enorme julgado que compreendia toda essa região. As primeiras estradas foram, também, delineadas por viajantes que seguiam rotas antigas que foram marcando limites entres as vilas e povoados perdidos no alto sertão. Esses viajantes e pesquisadores foram também importantes porque delinearam nossa fauna e flora e muitas outras curiosidades que são hoje peças fundamentais aos pesquisadores de nossas origens e de nossos autênticos costumes. Primeiros caminhos de Campininha das Flores levavam à capital, Cidade de Goiás, passando por Goiabeiras, Catingueiro Grande e Curralinho, abrindo braços para Mossâmedes que iria desaguar no então florescente povoado de Anicuns, um dos últimos do ouro. No outro sentido passava por Suçuapara, Gameleira, Aureliópolis, Santa Cruz de Goiás, rica e opulenta, ganhando o destino paulista. Por outro ângulo, abria-se para o caminho de São Sebastião do Alemão e Santa Luzia de Mario Mello, caminho de Mato Grosso. Abrindo-se para Campininha das Flores, passava-se por Bananeiras, Vila Bela de Nossa Senhora do Carmo de Morrinhos, Caldas Novas e Santa Rita do Paranaíba, nomes hoje modificados para outras grandes e florescentes cidades que englobam o universo dessa grande terra goiana. Caminhos do passado, estradas salineiras, estradas tropeiras, estradas carreiras, estradas de paus de arara. Tempo de ontem na saga de homens e mulheres que lutaram com dificuldades e venceram os limites do próprio tempo. Esses são os caminhos geográficos do Goiás de outrora. Com a criação das primeiras estradas de rodagem, em especial a “Auto Viação Sul Goyana”, em 1919, equipada com frotas de automóveis comerciais em Jataí a Cia de automóveis de Pílade Baiochi em Goiás, velha capital, teve início o tráfego de veículos comerciais no Estado, sendo que em Goiânia, o pioneiro foi Joaquim Luís Brandão do Couto. Em Trindade, o primeiro veículo, um Ford, pertenceu a João de Oliveira (Bebem), residente no largo da matriz que empreendia viagens comerciais, principalmente com a nova capital, Goiânia, nascida no arrojo de Pedro Ludovico Teixeira. Outro a possuir automóvel na velha Barro Preto foi Manuel Pereira (Mané Baiano), que tinha um centro espírita. Com o desenvolvimento da indústria de autos, surgiram as românticas jardineiras, sendo que em Goiânia foi famosa a “Tareca” que fazia o trajeto “Praça Cívica” e “Largo da Matriz” de Campinas. Em Trindade, a jardineira pioneira foi a alcunhada “jardineira do Chiquinho”. Francisco Cândido de Lima, o famoso “Chiquinho da Jardineira”, nasceu em Rio Alegre, município de Santa Maria da Vitória, no Estado da Bahia, onde residiu ali até o seu casamento com Joana Rosa de Lima, natural de Ilhéus. A custa de grande sacrifício conseguiu comprar uma perua que intitulou de “amorosa” que foi o embrião de sua firma de transporte domiciliar individual. Em 19 de maio de 1954, comprou uma jardineira, iniciando o “Expresso Chegou” apelido com a frase óbvia “Chiquinho Chegou”. Em 1958, adquiriu um ônibus da Mercedes Benz M-58 e depois, no ano de 1962 passou a formar uma pequena frota de monoblocos. Mas, o que marcou época, foi a sua famosa jardineira. Nos tempos da jardineira do Chiquinho, era por ela que vinham os malotes do correio. Chiquinho fazia o transporte gratuito de mendigos após a romaria do Divino Pai Eterno e dos estudantes só cobrava meia passagem. Depois deste período, Francisco Cândido de Lima, passou a dedicar-se às atividades agropecuárias até 1988, quando sofreu um acidente vascular cerebral ficando sem condições de trabalho até seu falecimento sob os cuidados da família. Miguel Cazé tem, também, um espaço garantido na história dos transportes em Trindade e Goiânia, pelo seu arrojo e tenacidade em vencer as barreiras do tempo e se firmar numa época tão adversa ao florescer de suas múltiplas atividades. Nos anos 1960, teve destaque especial “Expresso Cazé” de Miguel Cazé, pioneiro e desbravador como seus antecessores, das dificuldades dos tempos idos. Nascido em Santana dos Brejos, Bahia, revelou grande tino empresarial com seu empreendimento que tanto serviu nossa comunidade. Nos tempos da lambretinha, da contestação, do Rock, dos jovens liberais e dos sonhos da geração-ponte da modernidade, o “Expresso Cazé” representou conforto para nossa gente que ia e vinha da capital do Estado; que se firmava, servindo mesmo para exemplos no planalto, onde Brasília nascia no chão vermelho. Dentre os motoristas do “Expresso Cazé” destaca-se Joaquim Bento da Silva (1922-1978). Assim como o seu patrão, foi homem honesto e de caráter reto, próprio da austeridade dos tempos de antanho. Trindade ou Barro Preto de outrora, enquanto ligada a Campininha em proximidade geográfica e sentimental sempre foi muito próxima, porque outras limítrofes como Goiabeiras, Leopoldo de Bulhões, Bela Vista de Goiás, Santana das Antas e Ribeirão eram distantes cerca de 70 a 100 km. Os velhos caminhos foram sendo mudados e as rotas que passavam na Cruz das Almas e no túmulo do Professor Moyses Batista passando pelo córrego Bruacas, Córrego Caveira, e Morro do Medanha mudaram bastante. Um novo caminho de asfalto foi feito nos anos 1960 passando pela velha chácara do cel. João Braz, o córrego Barreirinho e Bugre, encurtando distâncias. Esse novo caminho tornou mais perto Trindade da Capital, e se transformou numa longa avenida com fábricas e setores adjacentes. Em 12 de novembro de 1988 foi inaugurada a Rodovia dos Romeiros com 16 quilômetros duplicados, arborizados e com os 14 painéis pintados pelo talento de Omar Souto, reconstituindo algumas passagens bíblicas uma das mais originais vias temáticas do mundo. Construída no governo de Henrique Santillo, a Rodovia foi uma prova de amor e fé aos romeiros de Trindade. Edificada logo após o acidente radioativo do Césio 137 de Goiânia, o artista Omar Souto colocou junto a Cristo, em cada estação, a figura do anjo Leide das Neves, a maior vítima do acidente de Goiânia. Recentemente o próprio artista restaurou a pintura anterior, dando-lhe ainda mais beleza. Seu talento marca a passagem dos que procuram Deus. Os antigos caminhos do Barro Preto ficaram perdidos no ontem. As velhas estradas de poeira vermelha foram sendo cobertas do negro asfalto do hoje e se desligaram do itinerário dos homens, ficando apenas na recordação daqueles que amam o passado. O então governo Henrique Santillo fez uma apoteótica inauguração numa bela tarde de chuva, renovando o tempo e imortalizando a arte sacra no antigo caminho dos velhos romeiros que pisaram a poeira das estradas dos tempos de outrora. Na história da Geografia em Goiás há uma lembrança para esses caminhos que se eternizaram no tempo. (Bento Fleury (Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado), graduado em Letras e Linguística pela UFG, mestre em Literatura pela UFG, mestre em Geografia pela UFG, doutorando em Geografia pela UFG, escritor, professor, poeta - bentofleury@hotmail.com)

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