quarta-feira, 4 de junho de 2014

Fases da vida

Por Alba Dayrell
A vida é uma caixa de surpresas. A rotina do cotidiano organiza o tempo enquanto fatos novos acontecem para alegrar o caminho a ser percorrido. Com os sentidos em alerta, descobrem-se segredos ocultos que podem ser revelados para transformar o dia a dia em momentos especiais, jamais esquecidos. Dando asas à imaginação, podemos comparar a vida a uma viagem. Durante o percurso, conhecemos lugares maravilhosos que nos deixam extasiados. Às vezes, as pedras do caminho travam nossos passos, cerceando a liberdade almejada. Trechos sinuosos nos conduzem a encruzilhadas, momento propício para exercitarmos nossa intuição e aprendermos com sabedoria a fazer escolhas certas. Assim, traçamos nossa vida. O tempo desliza implacavelmente. Infância, adolescência, juventude, maturidade, cada fase nos proporciona novos conhecimentos. Algumas vezes, recebemos missões árduas, passamos por sofrimentos inevitáveis, sofremos decepções, porém, percebemos que somos capazes de vencer as dificuldades e quase sempre saímos fortificados com a experiência adquirida. Também vivenciamos momentos de alegria, entre familiares e amigos, no ambiente de trabalho, na convivência com nossos semelhantes, o que provoca constantes renovações. O passado age como um referencial. Porém, devemos nos focar no presente e vislumbrar o futuro com otimismo. Cada dia é um novo dia. A vida passa, e começamos a envelhecer. Dizem que esse processo se inicia quando nascemos. A escritora francesa Mireille Giuliano, no seu livro "Mulheres francesas não fazem plástica”, diz que as pessoas são menos felizes entre os vinte e cinquenta anos, período em que lutam para definir a sua condição na sociedade. Segundo a autora, entre quarenta e cinco e cinquenta, são mais infelizes ainda, talvez por perceberem que a juventude se distancia, e a maturidade se instala. Mireille diz, também, que os cinquenta anos devem ser comemorados porque marcam um novo caminho para a felicidade. Pode ser que os melhores tempos sejam vividos entre os sessenta e setenta anos. Já estamos bem-situados na vida, não precisamos nos preocupar com competições, sabemos quem somos, já cumprimos nosso papel na sociedade, podemos realizar tudo aquilo que antes não nos era permitido. Não me preocupo com a minha idade. Situada no último grupo, procuro me preparar física e psicologicamente para ter boa condição de vida no período que me resta. Não percebo a passagem do tempo. Penso que estacionei nos trinta e cinco anos. Portanto, essa é a idade que sinto interiormente. Pensando bem, se Deus me permitisse chegar aos oitenta anos, idade superior à média de vida dos brasileiros, ainda me restariam doze anos para desfrutar desse mundo maravilhoso. Não é muito tempo. Os meus netos estariam crescidos: Gabriel teria trinta e dois anos; Caio, vinte; Laís, dezoito; Carlos Leopoldo Jr., dezessete; Thomas, quatorze; e José Pedro, treze. Provavelmente, seria o fim da linha. Ainda correria o risco de ser chamada precipitadamente. Todavia, essa hipótese não faz parte dos meus planos. Nascer, crescer, viver, morrer... Eis o ciclo da vida! Creio que, com a maturidade, as pessoas vão se preparando para a passagem inevitável. Quando chegar a hora de partir, gostaria de desfrutar da companhia dos entes queridos num dia de Sol, de falar de flores, de sentir o aroma fresco de perfume no ar, de tomar néctar de frutas, de recordar histórias engraçadas, de dar boas risadas e de ouvir música, provavelmente uma Balada ou um Noturno de Chopin. Adoraria ver o pôr do sol, o crepúsculo desaparecer com mil vaga-lumes iluminando o jardim. Que bom seria se pudesse escutar o cantar dos pássaros movimentando-se à procura de abrigo! Sentir a brisa fresca da noite, olhar para o firmamento, ver o brilho dos astros no céu e, quem sabe, tentar ouvir estrelas. Nesse momento, faria uma prece e receberia uma chuva de bênçãos. Ao deitar, teria bons sonhos. Meus lábios esboçariam um ligeiro sorriso. Acordaria num mundo encantado para dar início a uma vida perene na eternidade. Então, flutuando docemente no infinito, me lembraria das sábias palavras de Jorge Luiz Borges. “Se voltasse a viver, viajaria mais leve [...] procuraria ter somente bons momentos. Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos: não percam o agora”. (Alba Dayrell, membro da Academia Feminina de Letras e Artes(AFLAG), da União Brasileira dos Escritores(UBE)e professora aposentada da UFG)

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